Designer se inspira em referências da cultura negra para produzir peças de mobiliário que contam histórias
O designer Philipe Fonseca enxerga o design como uma ferramenta de transformação social.
Identidade, origem, herança e ancestralidade são os pontos de partida do trabalho do designer Philipe Fonseca. Graduado em Desenho Industrial, o profissional passou a produzir itens de mobiliário por conta do desejo de dar visibilidade às referências da cultura negra.
A aproximação de Philipe com o design aconteceu de forma indireta, quando o profissional atuava no setor de prototipagem para empresas de joias. O segmento, que transita entre a criação e a produção, fez com que ele passasse a se atentar aos detalhes das peças. No entanto, a falta de liberdade para conceber projetos e o desejo de explorar outros valores fizeram com que o designer decidisse dar um passo adiante.
“A luta dos negros e negras de gerações passadas não é suficientemente visível no âmbito do design. Meu trabalho busca através dessas referências, renovar e valorizar essas histórias e os valores que deveriam há tempos ser muito mais reconhecidas”, conta o designer em entrevista à Casa Vogue. É com base nestas refêrencias, obtidas por meio de documentários, filmes, artes e da vivência cotidiana, que Philipe se inspira para criar as peças.
Um exemplo disso é o primeiro item desenvolvido por ele, a poltrona Gorila. Segundo o designer, a peça leva um conceito muito pessoal, que consiste em atribuir uma palavra frequentemente utilizada para ofender homens negros ao nome da poltrona.
“A intenção foi traçar o paralelo entre o estereótipo de conduta violenta do homem negro com o animal, que muitas vezes sofre com o mesmo julgamento, porém é um animal extremamente majestoso, agregador e que reage apenas quando sente a necessidade de proteger aos seus”, conta ele.
Além de evidenciar a história da cultura negra, um dos propósitos do designer é servir como referência e inspiração para outros jovens, especialmente negros. De acordo com ele, a representatividade é um fator muito importante para fazer com que outras pessoas acreditem que é possível atuar mercado de design. “É preciso acreditar que é possível sair da margem e ocupar espaços. O objetivo é incluir cada vez mais”, explica.
Para permitir que as peças sejam consumidas de forma responsável e atemporal, Philipe não trabalha com coleções e prioriza a liberdade de não restringir os itens de mobiliário a um conceito determinado. Atualmente, as peças são desenvolvidas no Galpão da Xilo, uma empresa de inovação e espaço colaborativo situada no Rio de Janeiro. Além de serem vendidos em lojas físicas em São Paulo e em Brasília, os clientes também podem solicitar orçamentos das peças por meio do site ou da página do designer no Instagram.
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GIOVANNA OLIVEIRA | FOTOS DIVULGAÇÃO
MATÉRIA ORIGINAL: Casa Vogue